segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Combates

Era um local com animais selvagens. Todos adestrados e vivendo em paz.
As famílias e amigos se reuniam, brincavam nos parques, faziam piqueniques.
Mas os animais se revoltaram e atacaram as pessoas. Todos corriam desesperados gritando pelo serviço de segurança que havia desaparecido. Minha mãe morria atacada por uma leoa.
Eu fugia. Na fuga me desencontrava de meus amigos. Passava em pontes por cima de pântanos onde jacarés tentavam abocanhar as crianças. Todos os bichos tinham enlouquecido.
No alto da ponte fomos cercados. Esperando a morte certa homens armados surgiram e afugentaram os animais. Fomos para dentro de uma casa velha onde me confrontei com o líder.
"Onde vcs estavam, o que está acontecendo, minha mãe foi devorada, vi uma criança ser morta diante dos pais, isso não poderia ter acontecido!"

O líder me pediu para acompanhá-lo junto com outro visitante do local. Entramos num banheiro muito velho. Lá ele disse que esse cômodo tinha história.. que acidentes aconteciam ali. Dizendo isso saiu pela porta e nos deixou trancados lá dentro.
Apavorada disse ao companheiro que não tocasse em nada. Sabia que algo iria acontecer ali, e já suspeitava que tudo que tinha se passado no parque fora proposital. Mas ele n se conteve. Disse q ia lavar as mãos. Só lavar as mãos.
Algo se arrebentou e a água começou a invadir o banheiro, subir pelos ralos. Olhei ao meu redor e vi barras de ferro perto do teto. Passei as pernas por cima me dependurando. Disse que ele fizesse o mesmo. Me indagou por que... eu disse que a água que subia era dos rios, era barrosa, e algo poderia vir junto. Ele debochou de mim. "Tipo o que?? Um jacaré??"
Mas não eram jacarés.. eram cobras.. ele logo se foi atacado por uma víbora venenosa. Enquanto tentava me manter no alto uma das serpentes se ergueu e alcançou minha mão, me picando. Mas sua cabeça era redonda, deduzi não ser venenosa.
Sua picada, no entanto, me deixou dopada e sonolenta. Me enrolei nas coisas que tinham ao alcance das mãos, com medo de desmaiar e cair. O nível da água subia e a cobra voltou a tentar me atacar. Se ela me atingisse mais uma vez eu não aguentaria mais ao efeito do sonífero. Encontrei uma faca dentro de uma das bolsas em que me segurava. Mas ela estava com uma capa. Eu acertava a cobra com capa e tudo, usando minha pouca energia. A capa caiu e a faca finalmente se mostrou. Eu e a cobra fazíamos uma dança sinuosa, de quem acertaria primeiro. Por fim consegui acertá-la. A água já estava quase me molhando e eu tinha certeza que morreria. Foi quando alguém me puxou. Era o líder que tinha me posto na armadilha.

No chão eu tossia e respirava pesadamente, sem nada dizer. Disse-lhe que se queria me ensinar uma lição não precisava ter matado o outro visitante. Ele não respondeu. A faca ficou comigo e seguimos a jornada. Agora eu já não tinha medo de nada, e avançava sobre qualquer coisa que me ameaçasse.
Chegamos enfim a uma grande sacada que dava para uma cidade muito populosa. Nessa sacada foi me dado uma arma de tiro a distância. Recebi instruções. Era uma guerra. Tínhamos que matar a todos que estivessem armados e atirando contra nós. A cidade era imensa e era difícil cobrir todos os lados. Depois de um tempo atirando comecei a perceber os civis e tomar cuidado para não atingí-los. Salvei uma mulher que era atacada.
No fim do dia houve uma trégua. Os soldados bebiam cerveja. Eu descansei.
Me explicaram que tínhamos que fazer isso por que a única saída era passando por essas cidades dominadas por essas milícias.
Foi quando me dei conta de como os humanos eram os inimigos mais frágeis. Como me assustavam mais os animais, instinto e fúria.
Eu logo me tornei uma grande combatente. Três meses se passaram. Eu interagia com as pessoas da cidade e tinha alguns aliados. Um dia estavamos vigiando como de costume e com os binóculos identifiquei meus amigos. Estavam prisioneiros e prestes a serem fuzilados. Entre eles o cara que eu amava. Não deu. Com minha arma metralhei os inimigos. Só pensava que corressem, corressem, e eles o fizeram.
Junto com outros soldados atiravamos em qualquer um que levantasse uma arma contra eles enqt avançavam meio desorientados, sem saber bem pra onde correr. Seguiram na direção de onde saíam os tiros e eu gritei para que abrissem os portões.
Meus amigos estavam a salvo e o que era para mim uma emoção gigante, ter um resquício de minha vida antiga já tão distante, abraçá-los. Mas num descuido nosso um tiro atingiu nossa sacada, acertando em cheio a cabeça do líder que morreu na hora.
Todos me olharam. Me senti responsável pelo grupo.

Depois da morte do líder as coisas abrandaram. Fizemos amizade com a população local mais livremente, bebemos, cantamos, tocamos violão, partilhamos músicas e danças.
Pedi ajuda sobre como sair dali, e uma mulher me disse que teríamos que seguir até a próxima sacada, mas que não era seguro por enquanto por que um grupo inimigo estava para chegar, olhavamos ao longe tentando calcular quanto tempo levaria até a próxima sacada. Foi quando vimos homens se aproximando muito armados. Um frio me correu a espinha.
Rapidamente comecei a gritar para que todos largassem o que tivessem fazendo e entrassem para dentro. Tínhamos que nos esconder, não estávamos prontos. Eu pegava todas as armas e sapatos e jogava para dentro, e ninguém parecia entender a seriedade da situação, com muito esforço eu consegui esconder tudo, as pessoas da cidade se puseram como se nada estivesse acontecendo, e nós nos escondemos. Mas uma mocinha não resistiu a curiosidade de olhar para fora por uma brecha da porta, e percebendo o movimento os soldados nos encontraram.
Eu me levantei armada com a primeira coisa que achei e rezei para estar segurando corretamente (não era familiarizada com todas as armas), ameacei-os. Propuseram um teste. Uma prova de tiro.
Eu acatei. Com meu sniper, rezava a cada tiro que tudo desse certo. E por fim consegui ir muito bem.

O grupo inimigo era liderado por uma mulher. Ela era risonha e debochada. Olhos cruéis. Me contou uma história sobre como matou o amante. Por fim me propôs um acordo. Me deixaria seguir com o meu bando em segurança até a saída com uma condição.
O homem que eu amava deveria ficar para trás com eles.
Ela devia estar louca.
Olhei para trás e vi os olhos cansados das pessoas que tinham sobrevivido tudo aquilo.
Olhei para os olhos do meu homem. Uma dor lascinante cortou meu peito.

Me virei e disse que não. Apontei lhe a arma e disparei contra ela, mas não tinha munição. Voei em luta corporal conseguindo derrubá-la do alto da sacada para morte.
Devolvi um olhar carinhoso a meus amigos. Não deixaria ninguém para trás. Ninguém me tiraria mais um amor.
Ajoelhei diante dos subordinados inimigos entregando minha arma, em paz para minha morte.
Mas eles não me mataram. Eles agora estavam finalmente livres também.

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